Na primeira sessão sempre faço a pergunta: Em que posso te ser útil? A resposta mostra quem me procura e indica o rumo que a terapia vai tomar, pois relata a causa do sofrimento. Resposta inicialmente abrangente, do tipo “minha vida está uma porcaria”, fica depois mais específica, como “o meu casamento acabou” para depois ser conclusiva, tal como “os problemas começaram depois que descobri a traição”.
Há pessoas em que somente após algum tempo de terapia, são capazes de afirmar que “a culpa de tudo é de…” ou “tudo começou no dia em que…”, mas independente do tempo de elaboração de cada um, o analisante sempre conhece a causa do seu sofrimento. Sabe quem, quando e onde.
A decisão de começar a analise só é tomada quando o sofrimento fica insuportável. O psicanalista é procurado para resolver o SINTOMA, que se apresenta como doença psicossomática ou de relacionamento. O sintoma é APENAS a ponta do iceberg. Há muito mais por trás de tudo o que é sentido ou mostrado.
A análise psicanalítica tem como objetivo tornar visível a base do iceberg, isto é, a CAUSA, que pode ser uma perda específica, mas na maior parte das vezes, é o somatório de fatos da vida, armazenados no inconsciente.
No inconsciente estes fatos se somam, sem que 1 + 1 seja igual a dois. Assumem novas características e se apresentam com novas roupagens. O objetivo da técnica psicanalítica e desnudar, desmistificar e desmascarar tais apresentações porque o que é feio ou bonito aqui, pode não ser lá.
Conhecida a causa, será possível eliminar o sintoma OU mantê-lo. Isto mesmo: mantê-lo, porque, pelo menos naquele momento, isto é mais ADEQUADO.
Tornar público que alguém que deveria tê-lo amado o fez sofrer; de que alguém em quem você confiou o traiu, pode ser uma boa forma de vingança, mas, além disso, serve para que!?
Tornada visível a causa e os causadores, eles podem ser isolados e esterilizados. Podem ser transformados em passado. Nunca esquecidos, para que não se repitam, mas personagens do passado, nada mais do que isso. Serão colocados num tubo de ensaio, hermeticamente fechado e guardado num cofre a prova de tudo. E isto se aplica a fatos e pessoas.
Esta é a grande diferença entre o psicanalista e o líder religioso, amigo ou parente. O analisante não é encorajado ou desestimulado a tomar iniciativas, mas através da técnica psicanalítica lhe é demonstrada a CAUSA do sofrimento, a base do iceberg.
Muitas vezes, quebrar um pouco essa base, faz com que o iceberg desapareça e sem o sintoma, o sujeito passa despercebido na multidão. E muitas vezes, não ser reconhecido ou não ter SINTOMA, faz toda a diferença.
Descobrir a traição é relativamente fácil. Basta ter a senha. Mas descobrir porque houve a traição e porque não foi percebida a tempo, pode tornar o traído em cúmplice e aí…
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